PAUTA FILOSÓFICA

A necessidade da tese da orientação natural e sua suspensão em Edmund Husserl

A tese da orientação natural se torna necessária, para Husserl, quanto a efetividade espaço-temporal na qual o ser humano está inserido e se depara com o mundo que está  disponível efetivamente para mim e a necessidade de sua suspensão se dá no sentido de suspender o juízo para que se tenha uma percepção pura do fenômeno e assim criar algo novo e dar clarividência àquilo que está aí no nível do disponível do objeto.
Para Husserl, a tese da orientação natural se refere à efetividade espaço-temporal do mundo que está  e continua . O eu sujeito percebe o mundo circundante e o traz a consciência, deste modo, este eu sujeito vê que o mesmo acontece com as outras pessoas, mas cada um de modo diferente e assim se estabelece uma intersubjetividade da realidade ao redor que vem a consciência. No entanto, o mundo continua “” do seu jeito na condição do “disponível”. Neste sentido, a abertura do domínio fenomenológico acontece na percepção e tomada de consciência, ou seja, trazer à consciência aquilo que está  na sua efetividade espaço-temporal. Neste sentido, o eu sujeito se vê frente a frente consigo mesmo nos outros “eus-sujeitos” que também estão situados na orientação natural do mundo que continua aí. Assim, ao ver o fenômeno da coisa que se apresenta diante de mim, se evidencia o predicativo do que está no objeto e não o seu ser. Ao perceber aquilo que está na coisa e clarifica-lo, se tematiza o predicativo de modo que não se inventou algo novo, apenas se deu evidência.
Ao compreender a necessidade da tese da orientação natural, percebe-se que sua suspensão também é necessária. Husserl diz que a tese precisa ser mudada, mas que tal mudança é no sentido de duvidar para simular. Para isso, ele recorre a dúvida metodológica de Descartes para fazer a simulação. Nisto, se põe entre “parêntese” a tese, coloca-a fora do “circuito”. Deste modo, se suspende todo o conhecimento que se tem sobre algo, tudo o que se fez até então, inclusive o que se produziu nas ciências. Essa necessidade de suspensão é como suspender o juízo, fazer uma ᵋᶮᵒʸᶯ fenomenológica. Para Husserl, essa suspensão não é para se livrar de preconceitos ou pré-juízos, mas para que se abstraia, apreenda o fenômeno do jeito que ele se apresenta na efetividade espaço-temporal do aí disponível. Somente assim se poderá ter um conhecimento que corresponda de modo descritivo ao fenômeno que se apresenta diante de mim.
Assim sendo, a necessidade da tese da orientação natural se deve a importância de se situar na realidade efetiva espaço-temporal e trazer à consciência aquilo que está aí disponível e que a suspensão da tese se compreende no sentido de apreender o fenômeno na sua pureza a partir da percepção e, assim, ter um conhecimento correspondente ao que está  no objeto.

Elias de Nazaré Moraes, mestre em Filosofia pela UFPA.



A liberdade como fundamento do justo em Kant e Hegel.

Em Kant, a liberdade aparece no reino moral como causa sui na qual o indivíduo pode considerar-se livre, assim fundamentando o que pode ser considerado como justo e racional segundo a lei moral quando passa pelo crivo do imperativo categórico (MORA, 2001, p. 1737).
Deste modo, a liberdade humana vista como causa sui, ela é autodeterminação daquilo que deve ser como dever julgado pela razão como lei moral (ABBAGNANO, 2014, p. 700-701). Esta é pura e se impõe à consciência como fato da razão o que a remete a liberdade como seu fundamento e condição justificando o justo(MARTINS FILHO, 2004, p. 214-215).
A origem da liberdade humana está na lei moral que é dada pela razão, o que pressupõe libertar-se das inclinações naturais, pois a lei moral implica a liberdade para transcender o egoísmo humano enquanto criatura(COOPER, 2002, p 324-325). O justo só é possível em Kant porque a razão assim o determina, pois quando o ser humano age pelo imperativo categórico o seu ato pressupõe a liberdade fundada na lei moral.
A ideia de liberdade é importante para garantir a moralidade e consequentemente aquilo é justo. Assim sendo, a realização do justo acontece pelo dever no agir moral sintetizado pelo imperativo categórico. Desse modo, para Kant estar de acordo com a lei moral é agir com a razão, pois somente assim o ser humano consegue ser justo, o que implica a liberdade de modo a transcender a si mesmo e seus desejos naturais.
Em Hegel, a concepção de liberdade está ligado ao princípio de causalidade, ou seja, a contradição dialética entre causa e efeito, cuja circularidade evolutiva dentro de uma ação recíproca levaria a auto causação (MARTINS FILHO, 2004, p. 224). Nisto, o causador desse processo dialético histórico é o Estado que se manifesta como a própria liberdade.
Neste sentido, a liberdade é a necessidade compreendida do conhecimento que se manifesta na história da humanidade em diferentes graus conforme cada época. Quanto mais conhecimento se adquire maior é a liberdade, o que Hegel a coloca como um assunto da consciência, ou melhor, teórico. A conquista da liberdade ele a vê como um progresso histórico da humanidade (VASQUES, 1993, p. 111).
Nessa historicidade, o conhecimento como desenvolvimento da razão leva o ser humano a uma liberdade autoconsciente de paz consigo mesmo. Assim, tanto a natureza quanto a história humana só podem ser compreendidas no âmbito da liberdade autoconsciente (COOPER, 2002, p. 338-339).
Além disso, Hegel entende a liberdade como a própria realidade do espírito identificada com o Estado (considerado como Deus), ou seja, a realidade da liberdade concreta. Nisso, o ser livre acontece objetiva e positivamente pelo Estado como liberdade onde as vontades individuais são realizadas em conformidade com a vontade universal (Estado) que instrumentaliza os cidadãos (ABBAGNANO, 2014, p 702-703).
Assim sendo, toda a ação do Estado é vista como justa, ou melhor, como realização do justo que manifesta a vontade universal. Nisto, a ação do Estado é justa porque é o agir da liberdade e de sua vontade.Assim, a justiça está no progresso histórico da humanidade sendo justificada pela liberdade como manifestação do espírito (Estado).

Elias de Nazaré Moraes: mestre em filosofia pela Ufpa.

Referências

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 6 ed. Tradução de Alfredo Bossi; Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

COOPER, David E. As filosofias do mundo: uma introdução histórica. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

MARTINS FILHO, Ives G. Manual esquemático de história da filosofia. 3 ed. São Paulo: LTr, 2004.

MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. KP: Tomo III. São Paulo: Edições Loyola, 2001.


VASQUES, Adolfo Sanchez. Ética. 14 ed. Tradução de João Dell’Anna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993.

Democracia e verdade

O filósofo Michel Foucault, no curso A coragem da verdade, ao ter como referência o pensamento de Aristóteles, analisou que a democracia na Grécia antiga não tinha como principal característica o exercício do poder da maioria sobre os demais, mas o princípio da alternância quando se discute a problemática do melhor na democracia e a questão da diferenciação ética que está ligada ao discurso verdadeiro. Sobre o princípio da alternância, o filósofo francês afirma que “Uma politeíademocrática é uma constituição na qual os que são governados sempre têm a possibilidade de se tornar governantes” (FOUCAULT, 2014, p. 46). Mas, também, “[...] é o poder dos mais pobres que caracteriza a democracia” (Ibidem, p. 43). Desta maneira, na observação de Foucault, Aristóteles considera na democracia as oposições ricos/pobres que remete a oposição dos mais numerosos/menos numerosos, uma caracterização quantitativa.
É importante observar que a democracia grega como a ateniense era exercida por cidadãos aristocratas e os filósofos (dentre eles Aristóteles), também eram de famílias aristocratas, logo pensavam uma democracia aristocrática na qual parte da população não estavaincluída como os camponeses e os escravos. Neste sentido, encontramos neles uma visão negativa da democracia como modelo de governo da maioria, dos pobres e que o princípio da alternância pode abrir possibilidades de governos ruins.
Mas o que os filósofos gregos pensavam quanto ao governo da cidade? O governo da cidade deve tomar decisões que sejam úteis e que visem o bem comum (dos cidadãos da polis), e promova o melhor para todos. Diante desta compreensão, quem pode governar? Foucault destaca que para Aristóteles somente os melhores, os notáveis, os virtuosos, os preparados podem governar porque não são egoístas e buscam o bem próprio e esse bem próprio se estende a todos (Ibidem, p. 39). Neste sentido, a maioria são os piores porque o bem que eles buscam é ruim para a cidade, pois querem servir si mesmo e não o bem comum. Este pensamento pode parecer absurdo hodiernamente, mas não na antiguidade grega. A parresía dada aos melhores seria o melhor porque eles imporiam o bem na cidade, o seu próprio bem.
De acordo com a análise do filósofo francês, podemos enumerar quatro princípios na crítica da democracia como lugar da parresía e do dizer verdadeiro1 princípio quantitativo – governo da maioria, dos que não sabem governar. Escansão da unidade. 2 - princípioético-quantitativo – oposição entre os melhores e os piores, bons e maus. 3 - princípio da transitividade política – a vontade e oposição das vontades. O bem dos melhores significa o bem da cidade enquanto que o bem dos piores pode levar a ruina da cidade. 4 - princípio do discurso político – este se refere ao discurso verdadeiro e suas consequências. O discurso verdadeiro é bom, útil, salutar e comprometido, porém, não pode ser expresso na democracia entendida como direito e espaço de todos à palavra. O verdadeiro só é possível a partir da marcação, manutenção e institucionalização de uma escansão essencial entre bons e maus. “É somente na medida em que essa escansão ética essencial entre os bons e os maus toma efetivamente sua forma, seu lugar, define sua manifestação no interior do campo político, que a verdade pode ser dita” (Ibidem, p. 41), e ter seus efeitos.
Foucault observa que a verdade não pode ser dita num campo político definido pela indiferença entre os sujeitos falantes. Um campo político marcado e organizado por uma escansão ética não abre espaço para a verdade de modo que pode ser chamado de jogo democrático essa relação paradoxal do dizer-a-verdade e suas possibilidades. “[...] a liberdade de palavra dada a todos corre o risco de misturar o verdadeiro e o falso, de favorecer os lisonjeadores e expor a perigos pessoais os que falam” (Ibidem, p. 41). 
Mas por que a democracia e o espaço que a envolve pode ser um perigo? O filósofo francês nos mostra que não é a democracia em si, mas a verdade, a parresía proferida no espaço democrático. A parresía é um perigo tanto para a cidade quanto para o indivíduo que a exerce. A verdade falada sem medo de forma franca incomoda e coloca o falante em perigo, de não ser aceito. Deste modo, o marco institucional limita o discurso verdadeiro. Sócrates é o grande exemplo desse perigo, uma vez que se opôs a vontade de todos e se expos a morte. A verdade não foi aceita e Sócrates ao dizê-la defendia o bem da cidade. Como consequência do dizer-a-verdade foi condenado a morte. Este fato mostra que, estando no espaço democrático, à maioria decidiu pela condenação por não aceitar a verdade, a parresía, o bem e a diferenciação ética.

Elias de Nazaré Moraes é mestrando em filosofia na UFPA e pesquisador da noção de poder no curso A coragem da verdade de Foucault. Contato: eliasdenazare@hotmail.com

Referência

FOUCAULT, Michel. A coragem da verdade. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2014.



            Liberdade e democracia em Foucault

Para o filósofo francês Michel Foucault liberdade e democracia são práticas que acontecem no interior das relações de poder que, também são intrínsecas aos modos de constituição do sujeito moderno, porém o filósofo deu destaque a essas duas temáticas em sua análise ética na constituição do sujeito na antiguidade clássica que no cuidado de si encontramos presentes na atitude parresiástica.
Mas por que Foucault não considera a liberdade como um conceito objetual, um ente como nas teorias de libertação? A questão da liberdade nos remete ao poder e a resistência, mas não se trata da resistência a alguém ou um local que detém o poder que tira a liberdade e aprisiona ou ainda de ter que lutar contra um ente institucional poderoso, mas se trata de práticas no interior das relações que são afirmações intransitivas da própria liberdade e produto da subjetivação (Revel, 2011, p. 97-8).
Somos produzidos e assujeitados pelas relações de poder, portanto, não é possível pensar numa libertação, pois tais relações fazem parte da constituição do sujeito de modo que não se questiona seus processos. Neste sentido não encontramos no pensamento de Foucault uma luta por libertação contra a opressão ou para quebrar os grilhões que prendem o homem como no pensamento marxista, por exemplo, para que haja liberdade e reconciliação consigo. “É, portanto, no interior dessas relações de poder, invertendo-as, dobrando-as e reapropriando-se delas que se afirmará sua própria liberdade [...]” (Ibidem, p. 98). A liberdade nasce na relação ética com o si, uma relação criadora e constitutiva do sujeito livre.
Em Foucault encontramos uma visão positiva do poder ao demonstrar que as relações de poder nos constroem, porém nos assujeitam reprimindo. Mas, se o poder assujeita, então é preciso lutar para se libertar? Em sua análise Foucault não entende dessa maneira, pois compreende que é preciso reconstituir as modalidades de objetivação do sujeito e registro da verdade do indivíduo que permita o governo de si mesmo e dos outros numa experimentação ética na qual a constituição do sujeito seja a partir das suas verdades na atitude parresiástica. A liberdade se torna uma prática importante nas tecnologias de si, no cuidado de si, na parresía do dizer-verdadeiro.
Através da atitude parresiástica entramos na questão da relação liberdade e democracia. Foucault analisou que na antiguidade grega as práticas de liberdade se tornavam problemas quando no espaço democrático a parresía como forma do dizer-verdadeiro se torna perigoso e expõe o sujeito. O parresiasta cidadão da pólis tinha acesso à vida política como “[...] possibilidade de opinar e de contribuir, com isso, para as decisões coletivas. A parresía era um direito a conservar a qualquer preço, era um direito a exercer em toda a medida do possível, era uma das formas de manifestação da existência livre de um cidadão livre – [tomando] essa palavra “livre” [em] seu sentido pleno e positivo, isto é, uma liberdade que dá o direito de exercer seus privilégios no meio dos outros, em relação aos outros e sobre os outros” (Foucault, 2014, p. 32, grifos do autor).
Percebemos que a parresía aparece com efeitos ambíguos, de um lado é um direito dos cidadãos livres de exercerem sua liberdade, de dizer a verdade e construir o bem comum, porém, de outro é uma prática perigosa que exige precauções principalmente pela verdade expressada que pode incomodar interesses de alguns. Foucault observa que as instituições democráticas não são os melhores espaços para a parresía, pois “[...] não são capazes de dar lugar ao dizer-a-verdade e fazer a parresía atuar como deveria atuar [...]” (Ibidem, p. 33). Na Grécia antiga a ágora (praça pública) era o local das assembleias e das decisões coletivas, mas este espaço democrático era também perigoso para a parresía assim como em qualquer outro ambiente institucional por faltar à diferenciação ética naquilo que se diz durante o discurso.
Na democracia a liberdade de tomar a palavra é dada a todos e como consequências da fala franca parresiástica pode acontecer duas coisas: primeiro falar a verdade comprometida com o bem comum e o melhor para a cidade; segundo, falar francamente qualquer coisa ou algo para agradar a maioria ou um grupo, mas sem compromisso com o bem da cidade (Ibidem, p. 10-11). Quando o bem expressado atinge o privilégio ou interesse de alguém coloca em risco a vida de quem diz a verdade. Deste modo, na democracia a liberdade parresiástica é uma prática perigosa. Aquele que diz a verdade não fala para agradar a multidão, mas está preocupado com o bem comum da pólis.
A liberdade parresiástica se torna um problema na democracia por falta de diferenciação ética dos discursos. Vemos dois tipos de discursos parresiásticos, um positivo comprometido com o bem de todos e outro negativo que pretende agradar a multidão, sem compromisso ou que fala qualquer palavra. A liberdade como prática afirmativa do sujeito ultrapassa os limites do espaço democrático e se torna a condição ontológica da ética.


Elias de Nazaré Moraes é graduado em filosofia pela faculdade São Luiz – SC e mestrando em filosofia pela UFPA, pesquisador em Michel Foucault. Contato: eliasdenazare@hotmail.com


Referências

FOUCAULT, Michel. A coragem da verdade: o governo de si e dos outros II. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

REVEL, Judith. Dicionário de Foucault. Tradução de Anderson Alexandre da Silva. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011.          

                   
   LIÇÕES PARA UM AMANHÃ MELHOR



Entre fatos e versões, preferi investigar no mais profundo de mim mesmo e nas entrelinhas do cotidiano, auxiliado pelo silêncio do tempo, aquilo que as vozes alheias bradavam sem conhecimento de causa e que, até mesmo, julgavam e sentenciavam como verdadeiro. Diante disso, como resultado perene, percebi que é possivel mudar a existência sem alterar a essência. Pois, no processo de construção humana, o desconstruir algumas vezes torna-se necessário para a construção de algo melhor. E quando se trata do nosso melhor, então descobri que as oportunidades não são únicas, mas diversas, e que contidas no tempo, fazem deste uma grade oportunidade. Deste modo, enquanto "possibilidades de ser", é só avançar contra as adversidades e se servir destas para comprovar que somos capazes de irmos além do óbvio do cotidiano. Descobri também que, no fluxo do tempo, avançar significa planejar-se, traçar metas e buscar alcançá-las diáriamente, do contrário, os meses passam e assim os anos, e uma vida vai embora sem se auto realizar. Com isso, aprendi que nem sempre os "outros são o nosso inferno", mas ao contrário, quase sempre são fundamentais para nos ajudar a irmos em frente com nossos propósitos. Isso me levou a redescobri o valor da familia e das verdadeiras amizades que só são eternas por que são gratuítas e atemporal, ou seja, reflexo constante do amor Divino. Aprendi também que, "quando Deus concedeu a Adão o direito de viver do suor do seu trabalho", estava concedendo ao ser humano o direito de ser livre e lhe atribuindo a responsabilidade de construir a dignidade de sua existencia. Portanto, descobri por meio do trabalho que a vida pode ser tudo de BRA, desde que estejamos dispostos a aprender e a nos entregar as novidades. Pois, na dinamica da vida, nem tudo é estático. Mas, tudo que é, pode vir a ser de um outro modo.

Independência ou morte?!


O Brasil comemorou nestes dias a semana da pátria, momento este que lembra sua independência política de Portugal a 192 anos. Quase dois séculos depois, o grito do Ipiranga “Independência ou morte!” ainda é objeto de reflexões sobre seu significado real para os brasileiros, principalmente no momento eleitoral em que o país se encontra e com uma juventude pujante. De fato, o Brasil tornou-se independente ou ainda está em busca? Essa é a questão norteadora desta reflexão que quer provocar a todos a uma possível resposta durante o período das eleições.

Neste sentido, muito se fala em liberdade e independência na atualidade, principalmente entre a juventude que busca viver livremente com seu próprio estilo cultural, o que lhe é conveniente. Em junho de 2013, a juventude se manifestou nas ruas em todo o país. As questões políticas e sociais que a provocou chamou atenção dos governos para o Brasil que quer fazer valer o seu ser independente. Regina Zappa e Ernesto Soto lembram que para os jovens de 1968, ser livre é participar do processo político, das decisões do país, se manifestar sem medo (Cf: 1968: Eles só queriam mudar o mundo. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2008).

É importante nesse momento eleitoral que a juventude que tanto quer proclamar sua independência e viver a liberdade, esteja mais atenta aos projetos políticos que os candidatos apresentam e representam. Isso não se restringe aos jovens, mas se estende a todos os brasileiros, pois esta reflexão quer chamar a atenção para que cada eleitor compreenda que o sete de setembro é um compromisso de tornar o Brasil melhor, verdadeiramente independente. Isso requer maior participação no processo democrático na escolha dos governantes.

Participar dos momentos importantes da história do país não é simplesmente dizer que assistiu pela televisão ou viu passar na frente da casa. É preciso vencer o medo, se manifestar, expor os pensamentos. Deste modo, demonstrar assim, que a liberdade de expressão nas suas diversas formas de exprimir, como compreende Foucault, é a própria possibilidade que garante a existência do poder no exercício democrático quando os sujeitos são livres, estando em condições de exercê-lo (Cf: A noção de poder em Michael Foucault e Enrique Dussel. TCC, 77 f. Faculdade São Luiz, Brusque, 2013).

Neste sentido, Foucault ajuda a compreender que a urna pode ser as margens no Ipiranga e o grito “Independência ou morte!” seja o voto decisivo na escolha de quem vai governar o Brasil, o que representa a escolha de um caminho a ser trilhado nos próximos quatros anos, mas que pode ter consequências que vão muito além de um simples mandato. Esse fato não é como o que aconteceu a 192 anos atrás em que somente alguns tinham o poder de escolher e participar da proclamação da independência. Pois, o exercício do poder de escolha (voto) nas relações de força, no Brasil atual, mostra que todos os brasileiros que estão acima dos dezesseis anos são sujeitos livres em condições de exercer o seu poder de voto e, assim, estar contribuindo para a ampliação da independência que o país vem conquistando nos últimos anos.

Um fator importante que demonstra as conquistas do Brasil é a economia. Não basta simplesmente crescer e se tornar a sexta economia do planeta e não distribuir a riqueza do país. Não basta nas relações internacionais ser respeitado e ter posições firmes como demonstração de poder e influência no mundo, mas é preciso que a proclamação da independência seja significativa na vida dos brasileiros, seja válida internamente.
Desse modo, o sete de setembro que no passado marcou a história do Brasil, precisa se tornar atual na qualidade de vida de cada cidadão e cidadã, na educação, na saúde e outros pontos importantes. Assim sendo, a independência política de Portugal já aconteceu, agora quanto ao Brasil melhor, onde todos vivam com qualidade, sem miséria e com igual oportunidade, ainda está em construção por cada brasileiro que vai às urnas, às ruas, luta e trabalha por este querido país.

Elias de Nazaré, bacharel em Filosofia.


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Haverá tempo para a orfandade aos brasileiros após a Copa visto que as eleições já estão às portas?


Após a derrota do Brasil na “Copa das Copas”, para a Alemanha e em seguida para a Holanda, cabe-nos uma reflexão: será que haverá tempo para orfandade diante do acontecido, sendo que outro grande evento se aproxima de modo decisivo, para os próximos quatro anos, na vida de todos os brasileiros: as eleições 2014?

Segundo o pensador brasileiro Tasselo Brelaz, “o Brasil inventado se reinventou para sediar "A Copas das Copas", mostrando-se ao mundo com o slogan “País rico, país sem pobreza" (Cf: Brasil: País "inventado" que se reinventa para sediar a "Copa das Copas", Maio de 2014), mascarando a verdadeira face. Anterior à abertura da copa, o povo brasileiro demonstrava-se alheio ao evento e descontente com os gastos do governo, a ponto de fazer pouco caso.

A partir do primeiro jogo da seleção, na abertura, o povo foi se empolgando e criando expectativas, influenciado pela mídia que foi a grande aliada no mascaramento. Os brasileiros choraram, torceram e vibraram com as tímidas vitórias da seleção. Nesse curto período, o descontentamento com a presidente Dilma parecia neutralizado e os gastos esquecidos. Enquanto isso, os partidos políticos se articulavam com suas alianças corruptas pelo poder, pareciam dizer: “o povo não se importa, está ocupado demais com a copa!”.

Aparentemente tudo estava resolvido, o “País rico, país sem pobreza” dando certo, a seleção brasileira ganhando e os problemas sociais e econômicos desaparecido. Por outro lado, o Brasil real: os povos do Xingú atropelados por Belo Monte, o Tapajós ameaçado, a Cantareira seca, Nordeste abandonado e cidades esvaziadas dentro de horas por causa de barragem. Quem viu? Quem mostrou? Será que alguém se preocupou ou se preocupa com isso? Sem falar de Israel e Palestina, ou a Síria.

Mas, o que aconteceu para que máscara caísse? Parece-nos que bastou o Brasil perder vergonhosamente para a Alemanha em campo, que os brasileiros começaram a chorar e a ver sua realidade sem maquiagem, como diz Brelaz. Frente a tal realidade, quem será capaz de consolar os brasileiros desamparados? Desvenda-se, então, a orfandade do Gigante que, um ano atrás, afirmava estar acordando. Como diz Roberto Gomes, em sua obra Crítica da Razão Tupiniquim (1994), o “jeitinho brasileiro” o faz continuar adormecido e a festejar o título de campeão de seu algoz (em campo) e a hostilizar os Hermanos.

A “Copa das copas” acabou, a FIFA comemora seu sucesso, enquanto isso, o povo brasileiro ainda chora sua derrota, mas ninguém vem consolá-lo. Não tem mãe para suavizar, não tem pai para ajudá-lo, não tem quem venha em seu auxílio. A orfandade se torna explícita e os problemas reaparecem. Será que a herança positiva será suficiente? Não podemos ignorar os novos estádios que o futebol brasileiro ganha, a modernização dos aeroportos que era urgente para aviação civil e a mobilidade urbana nas cidades-sede. Cabe agora a todos encarar sua realidade e lutar por transformações sociais profundas e duradouras.

Diante disso, aproxima-se as “eleições 2014”. Este, sim, é um evento decisivo para o futuro do país que começa no presente, com a tomada de consciência de quem somos. Os acordos políticos já estão decididos, a corrupção hiante e a briga por quem ganha mais, está ao ar livre. Essa antepolítica, que só afasta o povo da participação democrática no processo eleitoral daquilo que deveria ser a ferramenta (que não está sendo) de verdadeira mudança da realidade. Pois, conforme a compreensão de Enrique Dussel, o povo é a potentia do poder político capaz de corrigir os desvios da política corrupta e fetichizada para a verdadeira política (Cf: DUSSEL, Enrique, 20 Teses de política, 2007).

Quem será que o povo brasileiro, diante de sua orfandade, escolherá para governá-lo. Vários grupos tentarão apresentar possíveis soluções, afirmar que são os “salvadores da pátria”. Velhos modelos da antepolítica selvagem reaparecem, alternativas deficientes buscam espaços e o modelo vigente se vangloria de seus feitos.

É assim que os brasileiros saem de uma “Copa das copas” que os deixa órfãos e correm o risco de não encontrarem, nessa eleição, quem os consolem. Talvez não haja tempo para a superação do trauma. Parece-nos, que mais uma vez não terá saída a não ser com o “jeitinho brasileiro”. Isso não quer dizer que a orfandade não tenha solução, pois os “salvadores da pátria” que se apresentam, já são conhecidos historicamente (não há novidade). Com garra, os brasileiros sempre encontram forças em si mesmos, não buscam soluções fora, unem-se, manifestam-se em tempos difíceis e nunca desistem de ser brasileiros.

Elias Moraes, Graduado em Filosofia pela Faculdade São Luiz-Brusque-SC.


BRASIL: PAÍS "INVENTADO" QUE SE REINVENTA PARA SEDIAR A "COPA DAS COPAS".
As vésperas do evento que "colocará o Brasil como o centro do mundo", resolvi refletir e compartilhar minha reflexão com vocês, sobre o que significa para nós, brasileiros, um evento de tamanha magnitude ( refiro-me ao Mundial de Clubes da FIFA), que já é considerado como particular em sua história, não apenas por se tratar de uma nova edição, mas, por ser realizada em território brasileiro e também pela proposta de ser desde já, "a Copa das Copas". Para tanto, delimitei minha reflexão ao slogan "Copa das Copas" procurando de compreender, dentro de uma leitura histórica do país que a promove, qual seria a sua finalidade, enquanto propaganda. Trata-se de uma tentativa sonhadora de reinvenção de um Brasil utópico? Vejamos. Roberto Gomes, em sua obra Crítica da Razão Tupiniquim (1994), cujo título já nos convida a uma reflexão, aborda o modo de pensar brasileiro que diretamente está ligado ao seu jeito de agir. Nele, Gomes chama a atenção ao projeto que os europeus fizeram de nossas terras e como utopicamente o idealizaram. Um ideal que construiu conceitos como "Jeitinho", "pior do que tá não fica", dentre outros, que até hoje contribuem para o atraso da "ordem e do progresso" brasileiro. Uma "invenção do Brasil" que em sua origem estava a favor dos europeus, pois as nossas riquezas muito lhes interessava, e que ainda hoje permite muitas pessoas de pensar o Brasil para estes, mas acrescentemos a eles os povos dos demais continentes que prestigiarão a Copa em solo brasileiro. Pois, me parece que estamos tratando de uma nova "invenção do Brasil" só que dessa vez para "a Copas das Copas". Dito de outro modo, para os que estão fora de nosso território nacional. O "Brasil que se inventa" é o de "um país rico, país sem pobreza". País que nos últimos dez anos vêm crescendo em economia, emprego e em qualidade de vida. E que por contar com a bênção de Deus (lembremo-nos do pensamento ingênuo dos europeus que pensavam o Brasil como o paraíso terrestre) ainda dispõe de um belo território natural rico em praias, fauna, flora e que serve, como um todo, ao deslumbre dos olhos dos turistas (geralmente os de fora ou aos poucos que dispõem de recursos para usufruir desse patrimônio natural que deveria ser para uso de todos os brasileiros). País que mascaradamente vai bem na política e que sabe controlar suas grandes estatais, que aliás só cresce, como tudo no Brasil. Mas, para além das metáforas ou ironias acerca da "Copa das Copas", existe uma Copa, talvez não pensada, nem inventada, que é real e que fará parte da realidade brasileira por muitos anos. Trata-se das construções para a realização do mundial. E não me refiro as que deveriam ser deixadas como legado da copa. Essas em sua grande maioria nem vieram a sair do papel, e as poucas que saíram da matriz de "irresponsabilidade da Copa" já apresentam defeitos. Refiro-me aos inacabados "elefantes brancos", os valiosos estádios. Conforme noticiou o Jornal O Estado de São Paulo, em texto de Jamil Chade, a "Copa levará o Brasil a ter os estádios de futebol mais caros do mundo." Segundo Chade, estudos realizados por Institutos europeus revelaram que, "em termos absolutos, o gasto total com estádios bate todos os recordes. Se todo o gasto de Sul-africanos em 2010 e alemães em 2006 for adicionado, não se chega ao total que foi pago no Brasil para 2014, mais de R$ 8 bilhões." (Cf. Estadão-Esporte.16.12.2013) Em 19 Março, deste ano, o mesmo Jornal divulgou novos dados sobre as obras da Copa, dessa vez, em reportagem de Diego Salgado, que apresentava o seguinte quadro dos custo de cada mundial em comparação aos estádios. Alemanha: 2006, 12 Estádios: R$ 4,2 bilhões; África do Sul: 2010, 9 Estádios: R$ 4,15 bilhões; Brasil: 2014 12 Estádios: R$ 8,5 bilhões. Diante desses dados devemos nos perguntar: como é possível que se propague uma campanha de "Copa das Copas", se depois de mais de 4 anos, os próprios estádios bilionários revelam, por meio de suas obras inacabadas, a realidade brasileira de despreparo para realização do evento? Pois bem, de modo negativo é possível sim afirmar que essa será a "Copa das Copas". E depois, "aqueles" que a promovem como um bem para o povo brasileiro, não estão sozinhos nessa campanha. A mídia, sua maior aliada, juntamente com o comércio cumprem muito bem os seus papéis de propagadores, visando os seus próprios interesses. A propaganda, sua fiel escudeira, realiza de modo premeditado a grande tarefa de maquiar a realidade. Maquiagem que é algo costumeiro dos brasileiros. Aliás, não só os brasileiros usam da maquiagem para encobrir a realidade, como costumam ir mais a fundo no que infere as aparências. Segundo estudos realizados pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plásticas e Estética (ISAPS) em parceria com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plásticas (SBCP), em 2011, o Brasil aparecia em segundo lugar entre os países que mais realizavam cirurgias plásticas e estéticas. Que me desculpem os adeptos das cirurgias e os profissionais da área pela comparação, contudo, me pareceu cabível, tendo em vista a realidade de um país que não soluciona seus problemas, mas procura ocultá-los. Todavia, voltemos à propaganda, alma de qualquer produto que se está a venda. Esta, segundo um ex-professor meu do curso de filosofia, é irracional, ao menos em sua linguagem, que é emotiva e afetiva (para não dizer apelativa). Ela é maquiavélica, é esperta e consegue convencer facilmente os menos virtuosos. O comércio, que dela se serve constantemente, em uma ocasião como esta do Mundial dos Clubes da FIFA, divulga para a venda não o seu produto, mas a realização da Copa do Mundo. Assim, os propagadores da "Copa das Copas" contribuem de maneira voluntária e involuntariamente, para a "reinvenção do Brasil". Não mais o verdadeiro Brasil, com sua crise penitenciária, ferroviária, rodoviária, e todos as "árias" que se queira aplicar, mas, o Brasil que dá certo. Portanto, em meio ao triste realismo de milhões de brasileiros, gostaria de desejar boas vindas a todos que vierem ao imaginário Brasil da "Copa das Copas". Afinal, cordialidade é uma de nossas características. Porém advirto, tragam na bagagem bastante paciência, pois precisarão para enfrentar as inúmeras burocracias brasileiras e muito dinheiro, pois, contribuirão com o reposicionamento dos gastos absurdos dos estádios (penso eu). Além do que, alimentação é cara e diante de eventuais problemas de saúde, poderão se servir dos serviços de saúde privada (rezo à Deus para que não seja preciso) pois o SUS, bem, a esse cabe uma outra reflexão.

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Tasselo Brelaz é graduado em Filosofia pela Faculdade São Luiz e Pós-graduado em Psicologia Jurid.

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