Em janeiro deste ano, Tasselo Brelaz dizia que os franceses clamavam por liberdade após o atentado ao Charlie Hebdo e agora novamente outro atentado os fere de forma cruel. Percebe-se que tais eventos têm uma relação direta com o ser na tentativa de privar os franceses de serem eles mesmos, pois estes atentados apresentam-se como vingança por fundamentalistas que distorcem o ensinamento de sua religião que prega a paz, devido a algumas medidas governamentais de tal povo para garantir-lhe um dos pilares de sua história e identidade: a liberdade. Valor este que, juntamente com a democracia, lhe custou caro na revolução francesa.
Expoentes de pensadores como Rene Descartes, Voltaire, Jean-Paul Sartre, Michael Foucault, Albert Camus, Jean-Jaques Rousseau, na França contemporânea não combinam o ódio e a censura à liberdade. Dentre estes, Foucault se destaca pelo seu engajamento com movimentos políticos e sociais em defesa dos direitos humanos e da liberdade de expressão. Este pensador discute a liberdade nas relações de poder presente na sociedade e a considera como condição indispensável para que aconteçam essas relações, pois, compreende que o poder só se exerce entre e sobre sujeitos livres, sejam individuais ou coletivos, enquanto são livres. A liberdade, então, abre um campo de possibilidades de ações e reações nos mais diversos campos de ações do ser humano no desejo de realizar-se enquanto tal (FOUCAULT, Michael. O sujeito e o poder. In: DREYFUS, Hubert; RABINOW, Paul (Org.). Michael Foucault, uma trajetória filosófica: para além do estruturalismo e da hermenêutica, 1995).
Neste sentido, ao refletir sobre o ato de terrorismo na França, em Foucault encontramos fundamentos filosóficos quanto a uma atitude de reação e resistência a todo tipo de violência e dominação. Não se pode permitir que qualquer tipo de força ou poder tire a liberdade de um povo que vive e ama a própria liberdade, juntamente com a democracia, pois, ser livre é um profundo desejo do ser humano. Por isso, não cabe somente ao povo francês, mas a todos os povos a resistência ao terrorismo e a luta “[...] contra as formas de dominação (étnica, social e religiosa); contra as formas de exploração que separam os indivíduos daquilo que eles produzem; ou contra aquilo que liga o indivíduo a si mesmo e o submete, deste modo, aos outros (lutas contra a sujeição, contra as formas de subjetivação e submissão)” (Foucault, 1995, p. 235).
Deste modo, percebe-se que este ataque não é somente as pessoas mortas e feridas, mas, sobretudo, ao povo francês, seus valores e cultura. Isso se manifesta como desejo de dominação e expressão de pobreza do humano que não evoluiu na sua própria humanidade e que não consegue conviver com o diferente, se opondo, assim, a afirmação do sujeito livre. Além do terrorismo, existem outras formas de atentados a liberdade e a democracia que ultimamente são perceptíveis no ocidente e oriente como inversão de valores. Especialmente no Brasil surgem movimentos que põem em riscos a democracia e se apresentam como regressão ao progresso humano. Ataques dessa natura chocam o mundo. Mas, como supracitado no início, que a liberdade abre um campo de possibilidade de ações e reações, governos e sociedades se solidarizam com os franceses que choram seus irmãos mortos e feridos.
Assim sendo, essa breve reflexão sobre o atentado terrorista em Paris que deixou mais de cem pessoas mortas e outras centenas feridas, trouxe Foucault para dialogar e relacionar tal fato com a liberdade. Neste sentido, esse acontecimento que usou o nome Deus, se apresenta como um sangramento à liberdade aos franceses, de modo que o medo toma conta de todos, pois não se sentem mais seguros e, consequentemente, não livres de viverem e serem o que eles mesmos são: democráticos e livres.
Elias de Nazaré Moraes, graduado em Filosofia (Faculdade São Luiz) e Pós-graduando em Filosofia e Teoria do Direito (PUC Minas).
Contato: eliasdenazare@hotmail.com
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